30
Mar 11

 

Há coisas que nos custam contar, muito.

Como se não bastasse a ausência da coragem,

será que a quem vamos contar está preparado para ouvir?

 

Quando lemos este livro, é óbvio que deveríamos ler porque foi um autor que o escreveu, mas todos nós conhecemos José Rodrigues dos Santos, pelo menos, como pivot de telejornal e entrevistador. Sendo ele a figura que é, é inevitável o pensamento. O que é ser pivot de telejornal? Para pessoas como eu que nada ou menos sabem sobre a matéria, um pivot tem apenas que saber ler o ponto e dizer o que está escrito. Tão simples quanto isso.

No entanto, se pensarmos melhor, um jornalista não trabalha só uma hora por dia (tempo médio de um telejornal) e, visto bem as coisas, tem de ter um poder enorme de prospecção e de saber pesquisar, para também saber do que está a falar. Mas isto digo eu que de jornalismo nada percebo. Limito-me a ser a pessoa que não perde um telejornal das 20h, sem fazer a mínima do que se passa por detrás dos escritórios e câmaras.

 

Ao ler A Ilha das Trevas, descobrimos a história duma pequena ilha que toda a gente sabe que existe e... poucos sabem a sua história negra e dura. O protagonista é Paulino de Conceição que assistiu a todo um confronto que teve o verdadeiro início em 1975 e dando por terminado em 1999 com a independência do país Timor-Leste. Paulino desde então carrega um fardo que precisa de ser partilhado, mas haverá a coragem para isso? Ele ambiciona voltar a ter noites descansadas e sem pesadelos. Precisa de desabafar.

 

Este livro prova uma coisa, e daí a minha introdução. Ao ler os livros escritos por José Rodrigues dos Santos e com alguma pesquisa que fiz, pude conhecer melhor o trabalho de um jornalista, e não, não é só saber ler o ponto ou uma folha com perguntas pré-definidas. Mas com a carteira de obras da autoria de José R. dos Santos, este prova-nos que se destaca pelos demais, no sentido que consegue nos seu trabalhos:

  • Misturar ficção e acontecimentos históricos;
  • Transportar o leitor directamente para a acção, quase como se sentíssemos o que estamos a ler;
  • Prender o leitor desde a primeira página até à última a uma velocidade vertiginosa;
  • Linguagem ligeira, mas bastante diversificada, ou seja, não haverá quebras de leitura por não percebermos alguma palavra e também não estamos sempre a ler os mesmos adjectivos, etc.

A Ilha das Trevas é o inicio de um ciclo que trouxe dois pontos que considero essenciais: o aumento a nível cultural dos portugueses, pois para além de ter gostado bastante do livro, adorei conhecer a história pormenorizadamente e bastante recente de uma ilha que já foi portuguesa (e eu adormecia nas aulas de História ou a estudar para as mesma disciplina, por isso é de louvar o poder de cativar o leitor); e o de trazer de volta e cada vez mais o gosto de leitura dos portugueses, onde a Gradiva se orgulha de divulgar os novos números e impressionantes sempre em cada edição que façam de cada livro e não duvido nada que muitas pessoas voltaram, ou começaram, a ter o hábito da leitura por força das obras deste orgulhoso português.

 

"Não é possível..." - É com este pensamento e com um olhar para o céu na esperança de que não nos caiam a lágrima que terminamos este violento e verdadeiro livro.


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